Jennifer Cabral
Foi durante o curso de publicidade na PUC-MINAS onde Jennifer Cabral teve seu primeiro contato com a fotografia, mas foi na Escola Guignard (UEMG) onde consolidou seus conhecimentos da história e técnica de fotografia e laboratório analógico. Quando concluiu o Bacharelado em Artes Plásticas na Escola Guignard a fotografia havia se tornado seu principal método de criação.
Foi estudar na School of Visual Arts em Nova York, período que coincidiu com os ataques de 11 de setembro, o que a impulsionou a se dedicar a fotografia documental e trabalhar para jornais no estado de Nova Jersey, onde reside até hoje. Pós-Graduada em Ciência da Informação pela Escola de Comunicação da Universidade Rutgers com concentração em Arquivos e Preservação, sua pesquisa artística foca nas potencialidades trazidas para coleções quando a fotografia e o arquivo se entrelaçam. Cabral é atualmente fotógrafa de coleções de biblioteca, documentando manuscritos e arquivos raros do patrimônio cultural na Princeton University.
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Luzia (2025)
Ao ser diagnosticada com câncer de mama, a infertilidade foi anunciada como um mero efeito colateral da quimioterapia. Saí do consultório e nunca mais visitei o tal renomado oncologista.
Procurei outro especialista carregando a pergunta: “É muita ousadia pedir para dar à luz quando deveria implorar pela minha vida?”
Olhando nos meus olhos do médico que segurava minha mão enquanto agachado ao meu lado disse: “Não tire minha fertilidade e anuncie esta perda como um mero efeito colateral. Me honre com a total consciência do que está sendo levado de mim.”
Eu disse “não” à tentativa de proteger os meus ovários, entrei no elevador e uma porta se fechou. Não seria mãe da Luzia.
Saí do consultório carregando a resposta: “É muita ousadia pedir para dar à luz quando deveria implorar pela minha vida.”
Estas três estrofes e as imagens subsequentes deste trabalho emergiram deste evento.
amamentar Luzia
Lamentar ia
ame Luz
Depressao. Possessao. Repressao. (2024)
Mesmo tendo passado por uma série de eventos traumáticos em seus corpos - depressão pós-parto, abortos espontâneos, remoção cirúrgica da tireóide e histerectomia - tratamentos adequados não foram oferecidos às matriarcas da minha família. Seus traumas físicos, bloqueios emocionais e desequilíbrios hormonais foram indevidamente tratados. Momentos de depressão debilitantes permearam suas vidas, impedindo-as de vivenciarem as diversas fases de uma vida materna com inteireza se tornando mães periodicamente ausentes.
Quando minha avo emigrou do Rio de Janeiro para os Estados Unidos nos anos 50 sua depressão passou a ser tratada com dois tranquilizantes - um chamado informalmente de “pílula da paz” e o outro de “mother little helpers”. Depois de uma década de campanhas direcionadas ao mercado doméstico e feminino a indústria farmacêutica estadounidense havia criado seu consumidor ideal.
Quando minha mãe passou pela sua própria crise depressiva no Brasil nos anos 80, seu diagnóstico foi baseado em um contexto religioso em que origens espiritistas baseadas no sincretismo entre cristianismo, espiritismo e candomblé foram consideradas origem e consequência para os episódios depressivos que ciclicamente testemunhei durante a minha infância. Nem mesmo os extremos efeitos colaterais gerados por tranquilizantes que culminaram em comportamentos suicidas foram controlados. Ao invés de um tratamento médico promessas e bênçãos foram executadas - incluindo a oferenda de uma cabeça de cera na antiga Catedral Metropolitana do Rio de Janeiro a “Nossa Senhora da Cabeça” pedindo por uma cura.
Projeto completo https://www.piercecabraleditions.com/repressao