Viviane Piccoli
Nascida em 1990, no interior paulista, Viviane Piccoli é fotógrafa formada pela Etec de Artes, geógrafa pela UNESP e pesquisadora independente. Com experiência como docente na educação básica e como educadora ambiental em projetos sociais, desde 2014 dedica-se integralmente à prática fotográfica e ao estudo da fotografia como linguagem. Seu trabalho autoral explora temas como recorte de gênero, identidade, memória, lugar, espaço, subjetividade e infância.
Seus projetos e pesquisas frequentemente partem de histórias pessoais e familiares, muitas vezes entrelaçadas à experiência feminina. As técnicas e linguagens utilizadas em sua produção envolvem a apropriação de arquivos e intervenções manuais, como colagens, costuras e bordado livre.
Ao integrar sua formação em geografia à prática artística, adota uma abordagem holística para explorar a materialidade do espaço como um meio de compreender subjetividades e dinâmicas sociais. Seu interesse concentra-se em como os espaços são compostos e em como refletem as relações humanas.
Outra dimensão de sua pesquisa reside no olhar sob a perspectiva da infância, onde a ingenuidade, leveza e humor oferecem novas maneiras de perceber o entorno. Além disso, investiga o universo do cotidiano, com atenção especial ao ambiente doméstico, à infância e aos aspectos ordinários da vida.
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Eu nunca quis ser mãe
“Eu nunca quis ser mãe. Para mim, ser mãe significava perder a identidade. Ser mãe era abrir mão de si mesma.
Quando criança, eu observava as mulheres da minha família e elas representavam tudo o que eu não queria ser. Todas ocupavam o espaço da maternidade e do ambiente doméstico com tanto afinco que eu nunca soube quem eram além dessa esfera. Meu maior medo era tornar-me invisível nesse mundo de filhos e afazeres da casa.
Quando minha irmã engravidou, para mim, foi um luto. A pessoa mais importante da minha vida iria desaparecer, e eu tinha certeza de que estaria sozinha no mundo dali em diante. Por um tempo, acreditei fielmente nisso, pois tudo passou a girar em torno de fraldas, cesáreas, roupinhas, berços – e de repente, tudo parecia reduzido.
Mas então o bebê nasceu, e percebi que ele era uma extensão dela. Passei a amá-lo com a mesma intensidade com que a amava. Depois veio mais uma sobrinha, e outra, e outro, e mais outro... E, pouco a pouco, compreendi que conviver com eles estava se tornando uma das melhores experiências da minha vida adulta.
Foi então que entendi: essa homogeneização da identidade das mulheres mães é fruto de um sistema repressor. É como se, naquele momento, todas as mães estivessem dentro de uma imensa sala de espelhos, refletindo-se umas nas outras ao infinito.”