manifesto
Madonnas e Fridas: arte e maternidade como agenciamentos políticos
Projeto de Ana Sabiá, fomentado pelo Prêmio Marc Ferrez de Fotografia - 17ª Edição - FUNARTE
Na multiplicidade da produção atual, a fotografia afirma-se no campo artístico como desafio poético e crítico na experimentação de suportes e hibridismo com outras linguagens que agregam novos escopos e significados.
Ao problematizar a maternidade nas nuances de dores e prazeres percebi o movimento político inerente. Nas série Madonnas Contemporâneas (2012-14), que estive junto a outras mulheres-mães partícipes do meu trabalho por essa perspectiva, percebíamos nossa inserção micro-política em espiral macro que atualizava as provocações das artistas politicamente engajadas das décadas de 1960’ e 70’, e ainda antes, especialmente as fotógrafas do final do século XIX.
Sempre válido lembrar que, ao longo dos séculos, a representação da mulher na arte foi majoritariamente realizada por homens com propósitos masculinos, moralizantes e patriarcais no controle dos corpos e ideias. A inserção das mulheres no campo artístico e demais campos do saber, inaugura a produção de outros códigos, linguagens e temas, amplia narrativas e complexifica a produção dos discursos de gênero especialmente a partir da modernidade. Documentar e fabular a si mesmas são práticas artísticas muito alinhavadas com os movimentos feministas. “O pessoal é político”, sentenciou Carol Hanish nos anos 1970’. O corpo, como matéria conceitual e formal na arte, inaugura e inscreve seu traço individual, subjetivo e também coletivo.
Nos corpos estão as marcas às quais somos expostas e subjetivadas, delas somos partícipes em variados graus na sua manutenção, resistência, atualização ou subversão. Enfrentamos a construção sócio-cultural opressora nos desafios diários que sentenciam desigualdades, injustiças e ilegalidades ao gênero feminino como justificativa para toda forma de inviabilidade. Índices estarrecedores apresentam meninas brasileiras violentadas dentro de seus lares e sendo obrigadas a gestarem, alçadas à categoria ‘mãe’.
Enquanto isso, sabemos existir um demarcador econômico e racial que discrimina aquelas mulheres às margens dos ‘cânones’ do ideal materno. Tal experiência subjetiva me levou tomar partido na reflexão, pois a maternidade, muitas vezes, torna-se argumento para a retirada das mulheres dos cenários sociais.
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